Chegou sua carta ontem, quase desmaiei ao vê-la. 

Depois de tanto tempo até pensava em esquecê-la; 

foi tão grande a surpresa que eu deixei para trás a nossa dor.  

Você falava nela rindo, como se ontem fora, 

lembrou dos jogos todos, “pedra, papel e tesoura”; 

foi tão grande a tristeza que eu chorei muito mais o meu rancor.  

E não cheguei ao fim, tamanho o sofrimento que de mim não sai… 

Lacrei a carta, enfim, 

pensando em algum momento abri-la e então relê-la a sorrir…  

Depois de tantos anos, mesmo assim não me esquecia; 

em meu leito de morte, um dos netos que me via 

leu com grande clareza aquela carta que em vida me matou.  

Você falava nela rindo, como sempre fora, 

mas terminava em choro, pois nunca quis ir embora. 

Palavras de beleza e alma farta provavam seu amor. 

Ouvi com tal leveza aquela carta que, leve, já me vou.